quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Toma que o filho é teu!

Pobre que sou, assim como as outras milhares de sardinhas que compartilham da mesma lata em suas idas e vindas diárias à Central do Brasil, sou mais uma que ali vai, apertadinha, presa em uma latinha velha adesivada SuperVia, cheia de ferrugem e botulismo do descaso da concessionária e do comodismo típico tupiniquim.
Tá bom, sabemos que a parcela menos favorecida da população, não sabe que prender a porta do trem, atrasa a viagem e pode danificar a composição. Tais proprietários de estômagos, mentes e bolsos vazios ainda possuem o espírito transgressor dos antigos surfistas de trem, ausentes de emoção em suas vidas, ejetam doses diárias de adrenalina mantendo aberta a porta do trem com ele em movimento. Ok, doido tem em tudo que é lugar.
Mas daí uma concessionária responsável em administrar e manter a ordem nos trens urbanos, propagandear em suas instalações e composições que devemos "Dizer não aos empata-portas" já é demais. Por acaso ela quer que nós mesmos, clientes, peçamos encarecidamente àqueles mesmos proprietários de mentes vazias, que por favor, não prenda a P. da porta? A pulguinha coça na minha orelha dizendo que por acaso, a Senhora Supervia está passando para os passageiros a responsabilidade de manter a ordem nos trens. Ela poderia pelo menos veicular um roteiro de ação contra os "Empata-Portas", no estilo: Primeiro - Peça por favor, ao atravancador da porta que libere a porta; Segundo - Caso o meliante não libere a porta, aumente seu tom de voz; Terceiro - Caso o meliante ainda não tenha liberado a porta, meta a porrada no indivíduo; Quarto - Se o indivíduo ainda assim não quiser liberar porta, jogue o do trem e o problema solucionar-se-á.
Pelo amor de Horus! Em um serviço que beira ou ultrapassa a utilização de 1 milhão de usuários diários, uma passagem de ida e volta pelo inferno custar uma pequena fortuna de R$2,50, como uma concessionária tem a cara de "adamantium" de pedir a seus clientes pra "Dizer não aos empata-portas"? Cadê os homens de preto? Bota segurança nessa joça.
Enquanto isso, é o trem com ar condicionado que passa todo dia no inverno e some no verão. É vendedor de pião colorido que demonstra seu produto no chão do trem no meio dos transeuntes, é o vendedor de escova de dentes, é o pastor pedindo dinheiro pra obra da sua igreja, é o vendedor de cerveja com seu isopor imundo arrastando na roupa branca dos passageiros, é o camelô ambulante com seu gancho de açougueiro pendurando nas barras de apoio suas mercadorias e quase as jogando no seu colo. Quem salta na estação Maracanã já está se preparando para as Olimpíadas. Com a distância entre o chão da estação e a altura do vagão, desembarcar, virou tarefa de atleta. Ah, ainda tem o vendedor de DVD pirata, com mãos alienígenas, que zomba daqueles que dormem e que a saliva escorre no canto da boca.
Já que é pra botar a boca no trambone, ops, digo, dedo no teclado, vale lembrar a tão famosa hospitalidade carioca, daqueles que sentados, esticam as penas no trem lotado, daqueles que falam no Nextel com o viva-voz ligado e com o volume no máximo, compartilhando com todos como foi o baile funk da última sexta-feira (esse eu estereotipo como a antiga síndrome do Teletrim na Cintura, o cara anda maltrapilho, mas tem um Nextel pendurado na cintura), daqueles que fingem estarem dormindo pra não ceder o lugar a senhora idosa cansada, de olhos entorpecidos, que não conta mais com o respeito juvenil e tem que seguir viagem em pé. Não podemos esquecer também dos proprietários de MP10 da vida, tocando um "pacotinho", um "fanqui" no último volume.
Amigo ou amiga, se você quer sentir o real sentido de calor humano, entre num trem na estação Engenho de Dentro em direção a Central do Brasil. Já usou algum dia o Winzip? Pois é, habilitam a compactação máxima. Nem flatulência se movimenta naquele ambiente.
Ok, mesma situação só que agora às 20:00hs no Santa Cruz saindo da Central do Brasil, imagine nesse mesmo cenário anterior, um indivíduo vendendo bebidas querendo andar com uma caixa de isopor. Sim, isso acontece, no Santa Cruz mais próximo a você. Pegue-o na estação Deodoro e seja infeliz.
Isso porque não falei do Japeri, mas essa história vou deixar pra quem vai pra Paracambi contar.

Supervia toma que o filho é teu!

E que venha a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Em uma cidade onde se faz obras em um ano antes das eleições, quero ver no que isso vai dar.

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